Esse texto vai te fazer valorizar ainda mais o lugar confortável que você está agora. Então pega seu café, se acomoda aí no seu cantinho e vem descobrir o que me fez e como foi viver cinco dias numa casa com rodas (spoiler: não foi tão ruim quanto parece rs).
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Passei exatos cinco dias morando num carro.
É claro que preciso compartilhar, porque eu jamais imaginei viver isso algum dia.
Só que antes , preciso voltar um pouco para te contextualizar.
Devido às circunstâncias, virei nômade aqui em Floripa, mas não sou daquelas que estão sempre viajando para um canto do país ou do mundo. É que sempre tenho que me mudar, então as mudanças já fazem parte da minha vida. No começo eu sentia muito; era extremamente difícil para mim a ideia de ter que mudar. Mas, de alguma forma, me acostumei. E não que isso seja bom - porque não é, mas é isso.
No último mês, me mudei para um lugar que sempre achei lindo e queria muito conhecer: por ter uma vista incrível (e quem me conhece sabe o quanto amo vistas), por também ser um lugar bem estruturado e confortável. Tão lindo que o acesso é só por trilha ou barco, onde você atravessa um canal que, na maioria das vezes, a água está em vários tons de verde.
A experiência começa desde o momento em que você entra no barco e vê aquele tanto de água ao redor. O lugar fica no alto do morro e, no terraço, dá para ver quase todo o panorama da praia; o céu, os pássaros, as montanhas, uma ponte, os barcos no cais, e o canal encontrando com o mar - isso tudo junto, num mesmo quadrante. É literalmente como se você estivesse olhando para uma pintura, juro. Paradisíaco
. Sem dúvida, está em uma das paisagens mais incríveis que meus olhos já viram.
Aqueles lugares que a natureza escancara e quase fala com você, sabe?
Vi alguns nasceres e pores do sol lindos, diferentes fases da lua bem pertinho de mim e também tive alguns poucos e bons momentos de gratidão por poder experienciar tudo isso.
Digo poucos, porque, embora o lugar tenha toda essa experiência de natureza incrível no ambiente externo que descrevi, o ambiente interno era cheio de pessoas que vibram na proporção contrária.
Ao acordar para usar os espaços comuns, me deparava com um ambiente que não condizia nenhum pouco com a energia do lugar. Era sempre uma atmosfera pesada, com funcionários e pessoas que pareciam estar ali mais para beber e socializar de forma superficial, do que para trabalhar ou aproveitar a natureza ao redor.
Bem contraditório, né?
Era difícil sentir paz e bem-estar porque a cultura dos funcionários e o movimento que eles criavam era totalmente o contrário do que o lugar representa (pelo menos pra mim).
E daí, de repente, parei e pensei: "Esse ambiente não é para mim" ou "essas pessoas não entenderam nada sobre a sorte de estar nesse lugar, com essa vista..."
Um dia aleatório resolvi fazer a trilha tarde da noite e dormir no meu carro. Tenho umas cobertas e travesseiros dentro dele, e posso falar? Foi surpreendentemente uma noite tranquila de paz, um sono reparador de descanso do corpo e da mente.
Pode parecer meio bizarro o que vou dizer, mas acho que pelo fato desse carro ter pertencido à minha família e por também sempre ter alguns dos meus pertences (porque nessas mudanças sempre acabo tirando só o necessário), sinto uma energia de muito aconchego e conforto dentro dele - até mais que em casas, com estruturas e paredes. É como se fosse um refúgio. Tenho a sensação de casa/lar, por estar dentro de algo que é meu, [quem vive de aluguel/Airbnb talvez entenda o que eu to falando].
Até o momento foi apenas essa noite, mas como o esperado, não consegui permanecer mais que um mês ali.
A saída do ambiente lindo por fora, porém não tanto por dentro, foi meio turbulenta. Senti que a minha presença e energia de paz estavam incomodando - e acho que estava mesmo - , além de não sentir confortável e nenhuma inspiração e criatividade para desenvolver meu trabalho e os meus projetos.
E cá entre nós, é nesse momento, que você se depara com a essência das pessoas e percebe o que elas têm dentro de si e o quanto precisam fazer terapia. Foi engraçado. Mas não teve conflito, (não da minha parte).
Decidi sair numa noite, onde havia passado um longo dia fora de casa, trabalhando, pensando e refletindo nos meus próximos passos se continuaria ali ou não.
E pronto, vou sair!
Depois de pensar e pensar e não ter lugar para ir ou voltar.
Você ainda ta aqui comigo? Agora tenta imaginar a minha situação…
Pedi um barqueiro que caiu do céu no exato momento que precisava (era fim de tarde, quase noite), subi e peguei tudo que era meu de forma meio desesperada e com pressa de sair dali, daquela propriedade, daquele ambiente - tóxico.
Coloquei tudo dentro do porta-malas do carro sem pensar muito, meio bagunçado, e fiquei pensando comigo e tentando, através dos meus próprios pensamentos, me convencer de que era tudo bem aquela situação ali, e que eu poderia, sim, tranquilamente dormir umas duas noites no carro até encontrar outro lugar para ir ou pegar um Airbnb. Mas outra parte desses mesmos pensamentos me falava: "Nicolle, você é maluca! Você não precisa passar por isso, mana, você tem casa, volta para a sua casa, pra casa dos seus pais (é acho que não tenho casa rs), lá você tem conforto, aconchego..."
Um eterno conflito entre esses pensamentos enquanto, em paralelo, tentava me organizar dentro do meu caos.
Ansiedade - muita! Desespero interno, demais. Perdi até a fome, mas fui no mercado enquanto era tempo e comprei água, umas besteiras e voltei - pro carro rs. Liguei o notebook (tinha bateria o suficiente, mas não tinha wi-fi; pedi em uma das casas em volta, adiantou pouco porque não pegava, tentei e tentei). Comecei a escrever, mas a ansiedade e o desespero interno eram maiores. Queria ligar para alguém, chorar, gritar, desabafar. Mas ao mesmo tempo queria também atravessar aquilo ali internamente, como um teste mesmo, como um desafio para o meu autoconhecimento e superação.
Não tive medo. Um fato engraçado sobre estar aqui na ilha é que não sinto medo aqui em momento nenhum, principalmente quando estou bem perto da natureza. Sinto insegurança às vezes, sinto solidão muitas vezes. Mas medo não sinto.
Olho em volta e faço as minhas orações, e sinto dentro de mim que tem algo muito maior me protegendo e me livrando de todo mal.
E tem.
Dormi.
Acordei bem no outro dia e percebi que o mundo não acabou por isso.
Olha que incrível!
Percebi que estava viva, saudável, descansada e pronta para começar o dia. Dezoito graus (mas não passei frio). Tinha bateria no celular e no notebook. Fui para um café superfaturado que sempre vou e que estou agora, inclusive. rs Passei o dia trabalhando, olhando alguns lugares, comi. E foi mais ou menos essa dinâmica durante os próximos três dias…
Dormir com a noite e acordar com o dia
Perceber os fenômenos natureza - de perto. Chuva, sol, noite, dia.
Sentir todos os efeitos positivos e negativos disso.
Até eu sentir necessidade de banho. rs
Muita necessidade de um banho, lavar o cabelo e escovar os dentes! Oh my god
Peguei um Airbnb perto de onde estava. Demorei tanto para achar a casa, a localização estava errada... Enfim, fui entrar, já era bem noite, começou a chover e eu desesperada por um banho, uma cama e uma casa com parede.
Deu tudo certo no final.
Dormi muito bem, acordei e preparei um café da manhã saboroso para mim. Na casa havia uns gatos; eles dormiram comigo (eu atraio os gatos, não sei por quê; dizem que é proteção - amém).
Às 15h, a dona da casa disse que eu precisava sair porque ia entrar outro hóspede. Fiquei triste, estava em paz deitada vendo série (era sábado). Levantei, arrumei as minhas coisas e saí igual um cachorro abandonado. kkk
A minha mente positiva pensou:
Você é livre pode ir para onde quiser. (pensa por esse lado)
Fui para a beira da lagoa, estacionei o carro bem à beira da lagoa mesmo. Descobri uma mesinha no porta-malas. Estava com fome. Pedi um iFood. Coloquei música de adoração no celular, me alimentei em paz e aproveitei aquele momento ali.
Estava previsto às 19h para eu ir ver um lugar que gostei bastante para me mudar e que só consegui ver na internet um dia antes. (As minhas buscas não pararam.)
Enfim, encontrei um lugar que fazia sentido para sair daquela situação (que hora era boa e hora não tão boa assim).
Uma casa - uma casa com cara de casa - com alpendre, vaga de garagem para o meu carro/casa, um quarto confortável, um monte de plantas em todos os cômodos. Uma energia de paz, de aconchego, de bem-estar. No quarto tinha um pisca-pisca igual àqueles de Natal; foi literalmente como se eu tivesse voltando para casa.
No final, descobri que a dona da casa é terapeuta. E a minha especialidade no meu trabalho de comunicação aqui no digital, é justamente para terapeutas e profissionais de saúde e bem-estar.
Coincidência? Não sei! Vejo como propósito e as mãos de Deus.
Ele sabe todas as coisas.
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A vida tem uma forma bem peculiar de nos apresentar exatamente aquilo que precisamos, mesmo quando não entendemos naquele momento.
Estar naquele carro, longe do que considero seguro e familiar, me fez perceber que lar é muito mais que parede. A experiência me mostrou que posso confiar na minha capacidade de mergulhar pelo desconhecido e que, muitas vezes, é exatamente quando saímos totalmente da nossa zona de conforto que descobrimos nossa verdadeira força.
O contraste entre o paraíso visual daquele do lugar e a desarmonia energética das pessoas, me fez entender que tem lugares que não me cabe, e o que preenche são ambientes que nutrem não apenas os olhos, mas a alma.
O que parece perfeito por fora pode estar completamente desalinhado com quem somos por dentro.
Porque o paraíso
é muito particular.
Os nossos sonhos, buscas, desejos e definições de realização são moldados de acordo com a nossa história pessoal, valores, e experiências. O que consideramos "perfeito", surge de quem somos como indivíduos únicos.
O que é paraíso pra mim, pode ser desconforto pra você. Por isso, a busca deve ser não por um lugar ideal, mas por coerência entre o que se vê e o que se sente.
Entre o que te cerca e o que você vibra.
Ter consciência disso é libertador!
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Sinto que as circunstâncias aqui na ilha fluem naturalmente para mim, como um chamado para novas experiências. E cada uma delas, positiva ou negativa – funciona como um espelho que traz ainda mais clareza sobre meus valores mais profundos.
Mas juro que agora eu só quero um pouco de paz!
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Com amor, Nicolle.
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